Doce Pássaro da Juventude
Abril 17, 2015
Ontem deliciei-me a assistir à grande obra de Tennessee Williams – Doce Pássaro da Juventude – que a produção dos Artistas Unidos levaram a cena no Teatro são Luís em Lisboa.
Sou um fã das obras deste dramaturgo americano, textos que retratam a sociedade americana de um tempo passado, mas que é facilmente transportável para a atualidade de qualquer país. No fim de contas estamos sempre a falar da condição humana – das suas glórias, dos seus sonhos, dos seus desesperos, dos seus infernos.
É sobre isso mesmo que esta peça fala – a condição humana – neste caso a loucura excessiva em querer uma juventude perdida, uma juventude de sucessos e beleza, uma juventude de força e destreza, uma juventude sonhada e nunca real.
A história centra-se em Alexandra del Lago e chance Wayne, sendo este a ligação a todas as restantes personagens. Alexandra, aqui desempenhada majestosamente por Maria João Luís, é uma “velha” atriz de cinema americana que idealiza que o fim de carreira e de glória está perto e por isso vive no medo constante que o seu público e fãs a abandonem, por isso refugia-se no vodka, no haxixe, nos anti-depressivos, nas drogas alucinogénicas. Uma personagem de uma carga dramática fabulosa, na luta constante de desespero, na loucura real e na causada pelas drogas, nas depressões, nas ansiedades abruptas.
Esta atriz conhece Chance Wayne, um gigolô também já com a idade a pesar nesta profissão, e que tem como sonho tornar-se um ator famoso, que o possibilitaria a fugir do mundo que conhece acompanhado pela sua rapariga.
Chance tenta afrontar a velha atriz, mas está também já dependente do seu dinheiro, da sua vida da dependência que sente por si. É por isso que após uma noite de muito álcool e droga decide pernoitar no Hotel Royal de St. Claude terra que o viu nascer mas de onde teve de fugir, perseguido pelos capangas do político da Cidade.
É no quarto de hotel que se passa a grande 1ª parte desta obra, nos diálogos e monólogos destes 2 personagens.
Chance busca então a sua rapariga, que conheceu aos 15 anos, Heavenly – representada pela fragilizada Catarina Wallenstein – a mulher que desvirginou numa noite de lua cheia na praia e que é filha de Boss Finley, a força politica do poder naquela cidade. Por isso, sempre teve de andar em fuga, e não era permitida a sua presença na sua terra natal, No entanto entre velhas e gordas que o “contratavam” sempre voltava a St. Claude para estar com a sua rapariga. Foi na ultima viagem que lhe pegou uma doença venérea, o que fez com que a sua rapariga tivesse de ver o seu útero arrancado e se tenha tornada seca, infértil, morta.
No final das contas Boss Finley, político dos bons costumes, religioso o quanto pudesse ou devesse interessar é um homem sem escrúpulos e que tudo fará por castigar Chance.
São as lutas, as histórias destes personagens que nos completam a peça, o desenrolar da ação passa por um crescente de loucura e de desespero dos 2 protagonistas e que termina com a fuga de Alexandra Del Lago de volta à ribalta cinematográfica e na possível castração de Chance.
A peça está muito bem montada, com uma encenação não brilhante mas eficaz de Jorge silva Melo. Contesto a cenografia – barata/simples/vazia demais para este espetáculo – diz-me que por vezes o menos é mais, aqui o menos foi sem dúvida menos.
Não gostei também da sonoplastia. Quem conhece minimamente as obras de Williams sabe que por vezes a mesma trilha sonora é acompanhada pelos mesmos personagens do inicio ao fim da peça, mas neste caso a escolha quer das notas de saxofone que permitiam a mudança de palco quer o som das gaivotas que constantemente nos queriam levar para o hotel à beira mar de St. Claude são de um mau gosto terrível. Acho que o guarda-roupa também merecia mais cuidado e orientação.
De tirar o fôlego é sem dúvida as interpretações. Neste caso da brilhante Maria João Luís – que é realmente fabulosa. Ruben gomes, como Chance vai bem, mas longe da perfeição. No entanto a surpresa foi pelos atores que desempenharam o papel de Boss Finley e Miss Lucy, lamento não saber os vossos nomes... talvez por isso uma simples folha de plateia desse jeito para conhecer todo o trabalho artístico e técnico.
Mas a estes 4 atores um aplauso forte!
A quem ainda não teve oportunidade de assistir é só ir até ao chiado para ver e ouvir Tennessee Williams.