Há já um ano que estreou nas salas de cinema o filme realizado por António Pedro Vasconcelos Os gatos não têm vertigens e que é protagonizado por Maria do Céu Guerra e por João Jesus.
Andei para ir ver, mas não consegui, depois mais tarde tive para alugar no vídeo on demand e pensei: Se calhar não vale a pena, agora o filme já está disponível nos canais TV cine e na passada 2ª feira à noite decidi vê-lo.
Quando cheguei ao fim apenas tive uma certeza: Este é sem dúvida um dos melhores filmes portugueses dos últimos tempos.
A história e o argumento de Tiago Santos (autor do próximo filme de Leonel Vieira Canção de Lisboa) é de uma simplicidade e de uma beleza fora do comum.
Rosa (Maria Céu Guerra) torna-se viúva do seu marido sonhador e escritor Joaquim (Nicolau Breyner), e desde essa hora que se vê isolada no seu apartamento num prédio no Castelo em Lisboa. Isola-se do mundo e apenas na aparição do fantasma do seu marido, com ele continua a ter os mesmos comportamentos, a mesma relação as mesmas conversas. Talvez por este rasgo de loucura a sua família (Fernanda Serrano e Ricardo Carriço) tentam levar a velhota para um lar.
Num qualquer outro bairro degradado de Lisboa, existe Jó (João Jesus) um rapaz de 18 anos que se vê abandonado por uma mãe que não o quer, por um pai alcoólico que o espanca e abusa, e por isso isola-se também num mundo só seu – os seus diários.
Num dia de fúria Jó foge de casa e vai pernoitar num terraço de Lisboa, num terraço alto de um prédio no Castelo, na casa de Rosa. Aí tal como a um gato vadio, Rosa protege Jó.
A partir daí um sem numero de histórias repletas de uma beleza e de um bom gosto tremendo caracterizam a relação destes dois personagens.
Um filme único, um filme belo.
Este ano arrebatou nos prémios Sophia os 4 prémios principais: Melhor filme, ator, atriz e realização. E muito mais era merecido. Maria do Céu Guerra vai sublime, João Jesus na sua estreia no cinema está brilhante, o personagem de Nicolau tremendamente bem construído e a mesquinhez e maldade de Ricardo Carriço muito verdadeira.
A fotografia é fabulosa, a banda sonora arrepiante e a grande música “Clandestinos do amor” de Ana Moura é lindíssima.
A quem não viu apenas tenho a dizer que está a perder um dos melhores filmes portugueses de todo o sempre.
Mesmo no alto de um terraço não há medo, porque os gatos não têm vertigens, e este vagabundo gato escolheu o telhado de uma bondosa, genuína e fantástica velhota.