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Rotas do Mundo

Pedro around the World... My life, my dreams, my favourite things

E morreram felizes para Sempre - Teatro Imersivo

Junho 25, 2015

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Já tinha ouvido falar, mas estava bastante reticente a este espetáculo, pensava que ia assistir a mais uma palhaçada modernista de baixo orçamento a que muitos grupos já nos habituaram. Como não sabia o que iria encontrar estava bastante ansioso, mas no fim valeu a pena.

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Começamos por colocar uma máscara descartável hospitalar na cara e entramos num mundo novo, fechados dentro de uma cela psiquiátrica com mais de metade do público (que para meu espanto era muito) começamos todos com risos, gargalhadas, piadas – ninguém, ou quase ninguém sabe ao que vai, mas pensa que vai gozar.

O espetáculo vai começar, quando a porta abre e nos permite deambular pelo Edifício à nossa vontade começa o fumo a instalar-se, a música ensurdecedora e louca a entrar nas nossas mentes, os mais variados cheiros misturam-se com o cheiro a éter. Não demora mais de 5 minutos para mergulharmos verdadeiramente no espetáculo e a partir daí o público torna-se psicótico em busca do argumento, das personagens, da cenografia, da história e do seu desfecho.

Mas afinal o que é isto?

É difícil de caracterizar, não é uma peça de teatro normal onde o público se senta leva com toda a história e depois tira as suas conclusões, não é um recital pois nem uma palavra existe, não é um concerto pois não existe música ao vivo, não é um bailado apesar de existirem coreografias trabalhadas e de excelente execução. É o primeiro espetáculo imersivo feito em Portugal, depois do sucesso que este género de espetáculo tem feito por Londres e Nova Iorque.

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É complexo?

É, mas é uma delícia para todos os sentidos. Basicamente temos de ser nós próprios a gerir o que queremos ver, ou termos essa sorte. Os 10 personagens começam todos no mesmo espaço e depois vão deambulando pelas 27 salas deste edifício, cada uma delas recriando um ambiente cénico fabuloso, depois o público escolhe aleatoriamente seguir um dos personagens, ou não, a pessoa é livre, aqui estamos presos ao nosso livre arbítrio.

Seja como for, depois de 50 minutos de história, voltamos todos ao espaço inicial, sem sequer darmos por isso, e a história repete, agora convém seguir personagens diferentes.

Por mais que tentemos é impossível ver toda a história, no mínimo tínhamos de repetir 5 vezes este espetáculo para acompanhar permanente cada personagem durante os 50 minutos. Se há momentos em que esta perseguição é fácil, há momentos em que temos de mostrar a nossa destreza física e correr pelos corredores tal qual loucos psicóticos atrás do personagem que elegemos. No entanto, é sempre fácil perder esse personagem e a meio da trama começarmos a seguir outro.

Um espetáculo que não é aconselhado a pessoas sensíveis nem com capacidades de movimentação reduzidas, o calor, a exaustão chega a cair em pingas de suor pelas testas dos presentes., as cenas a que assistimos têm uma carga emotiva enorme, cenas de nudez, de erotismo, de violência e de loucura são uma constante.

Mas afinal qual é a história?

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( Fotos: A assistente de DR. M, Enfermeiro Coelho, Constança, Inês)

A história é simples por detrás de toda a sua complexidade.

Dr. M (aqui encarnando o Nobel português da medicina) ganha um prémio internacional e dá uma festa, nesta festa estão presentes os outros personagens, Pedro o médico, O enfermeiro, O Alexandre, Constança a mulher de Pedro, a Assistente do Dr. M, a enfermeira, o vigilante e o violinista ou personagem misterioso. Durante essa festa aparece Inês, uma recém-chegada enfermeira espanhola. O amor é imediato entre Pedro e Inês. Depois como a história da nossa História – Pedro e Inês – vivem um romance impossível. Constança interrompe o momento entre ambos e discute com o marido. Dr. M acede ao pedido da mulher traída para afastar Inês para um quarto cela. Quando Pedro descobre, resgata-a e dá-se o contacto sexual. Dr. M percebe que foi contrariado e pede ao enfermeiro Coelho para lidar com a situação. O enfermeiro, que tem vindo a praticar em segredo a lobotomia transorbital, desenvolvida pelo DR. W americano, aproveita para lobotomizar Inês. Pedro luta com Dr. M e exige vingança. Coelho é capturado, humilhado e executado em público. Ao longo da noite, um estranho violinista percorre os corredores mas ninguém parece vê-lo. No final... Morreram felizes para sempre.

E como é o ambiente?

É fabuloso! 27 salas recriando os mais diversos espaços do mundo da psiquiatria: o salão de festas, o bar, a cantina, o quarto dos personagens, o duche, o vestiário, a cantina, o jardim, as celas, o bloco operatório, tantas e tantas salas extremamente bem pensadas e executadas.

É um verdadeiro espetáculo, cheio de loucura, emoção desde a cena do arrastamento de Inês até à cirurgia, a cena da apreensão de coelho e a sua humilhação, a luta homoerótica de Alexandre e Pedro, as cenas de humilhação e tristeza de Constança, a cena de abuso sexual de doentes de Alexandre e Dr. M na dança das camas, cenas tão forte e emotivas que vão ficar por muito guardadas no meu cérebro.

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De uma ficha técnica pouco conhecida, para mim pelo menos, mas que vão brilhantes quero enaltecer o trabalho de Ana Padrão na sua encenação e direção de atores.

Aconselho a correrem o risco de irem ver este espetáculo, o único inconveniente é o preço, mas provavelmente vou ter que repetir.

O espetáculo continua em cena no hospital Júlio de Matos – Pavilhão 30 até final de Julho.

 

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