O Pátio das Cantigas, sem cantigas mas com muita graça
Agosto 26, 2015
Depois de muitos comentários lidos, de ouvir as mais diversas opiniões, depois do sucesso alcançado no passado fim de semana tornando-se o filme português mais visto de sempre no cinema, eis que tomei coragem e fui assistir ao Pátio das Cantigas.
O Pátio das cantigas de 2015 tem um argumento baseado no homónimo dos anos 40, no entanto exceto as histórias bases (amor de rosa, Rufino e Evaristo; o amor de celeste e magrinho, e o roubo que ocorre no pátio) tudo é diferente. Ou seja, a história condutora principal mantém-se tal como o nome das personagens mas nesta modernização tudo o resto altera.
É de salientar a coragem de Leonel Vieira em tomar como seu este Pátio, ou direi melhor, inteligência. Se este filme se chamasse X ou Y iria ser mais um fiasco de bilheteira do cinema português assim Leonel Vieira conseguiu chamar o mais diverso público às salas. Os velhos correm para recordar, os de meia idade para comparar, os mais novos vão atrás dos atores que enchem a televisão. Receita que está a colher bons frutos.
Mas agora analisando com algo detalhe terei de concordar que o argumento é um pouco desenxabido, as histórias encontram-se mal ligadas e com alguns defeitos de continuidade. Salva este filme pela fotografia, que acho que é bastante cuidada e pelos bons décors. As piadas simples e as comédias de situação criadas estão boas e cuidadas.
Brilhante está a maioria das interpretações por parte dos nossos atores. Se o antigo filme para mim vive do trio masculino (Santana, António silva e Ribeirinho) este novo pátio vive das excelentes interpretações do elenco feminino: Dânia Neto numa primorosa e sensível Rosa, Sara Matos numa atrevida e maldosa Amália e Anabela Moreira numa ingénua Susana.
Depois existem alguns intérpretes masculinos que brilham neste filme, e que elevam os seus personagens a outro patamar: Aldo Lima no magrinho, Rui Unas no Carlos Bonito e brilhantemente José Pedro Vasconcelos no novo engenhocas.
Manuel Marques apesar de ir bem no papel de Rufino tem pouco destaque, César Mourão vive da sua graça natural no papel outrora desempenhado por Santana e o mais ingrato cabe a Miguel Guilherme que desempenha o famoso Evaristo, anteriormente defendido por António silva.
Se é verdade que António silva vivia do seu boneco, criado e igual em todos os filmes, mas que transmitia uma graça falsa mas hilariante, Miguel Guilherme recria um boneco de uma película antiga mas que não cai bem no desenrolar deste filme. Não sei se foi uma decisão sua, se do realizador, ou algo imposição comercial, mas não resulta. Percebe-se que não é uma cópia de António silva mas representa um jeito de representar falso do antigamente. Apesar de ser um ator fabuloso poderia brilhar mais se não tivesse optado por esta interpretação. Pela apresentação do próximo filme da trilogia – O leão da Estrela – a representação vai mudar, o que poderá ser benéfico para o seu desempenho.
No fim das contas parabenizo todo o elenco, e a grande homenagem que se fez ao cinema antigo. Esse cinema antigo que era comercial e de massas. Hoje se existirem boas parcerias comerciais e publicitárias, e uma boa divulgação um filme português pode também ser comercial e obter sucesso financeiro.
Surpresas muito engraçadas: o final de Bollywood (devem ter retirado a ideia do meu espetáculo Hotel Royal :)), a cena do baile e o final da Maria das Graças (Oceânia Basilio).
Viva o cinema Português.